Formação executiva em BIM: experiências didáticas na FGV

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46421/enebim.v3i00.322

Palavras-chave:

BIM, Formação Executiva, Gestão Organizacional

Resumo

No contexto da construção civil, a utilização de Building Information Modelling (BIM) vem sendo considerado como uma das tecnologias da informação e comunicação que está transformando o setor. Os métodos BIM viabilizam a construção digital e a antecipação de tomadas de decisões do empreendimento (EASTMAN, 2014). Segundo Succar (2009), o conceito BIM engloba um conjunto de políticas, processos e tecnologias que geram uma metodologia para gerenciar os dados do projeto, da construção, do uso-operação e manutenção e da demolição, em um formato digital ao longo do ciclo de vida do edifício.

Ao comparar o mercado e as pesquisas em relação ao ensino de BIM, percebe-se que a área de educação ainda está restrita e pode ser explorada (KASSEM e AMORIM 2015; LEAL e SALGADO, 2019). Apesar do aumento da inserção de BIM na educação sua incorporação no ensino tem destaque, ainda, em disciplinas que visam o ensino de softwares. Tendo em vista as características disruptivas de BIM,que rompe com os padrões, modelos ou tecnologias já estabelecidos no mercado, acredita-se que o ensino deve atender não apenas as tecnologias BIM, mas também, atingir os processos de trabalho e projeto envolvidos na adoção.


Nesse sentido, diante da necessidade de capacitar os profissionais que atuam a nível gerencial nas organizações ligadas ao segmento de Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação (AECO) a Fundação Getulio Vargas (FGV) lançou em 2020 o Programa de Formação Executiva em BIM, que tem como principal objetivo desenvolver nos gestores as competências necessárias para liderar equipes, empresas e projetos no ambiente BIM, capacitando-o a atuar estrategicamente na implementação, desenvolvimento e execução do projeto em suas diversas fases.

O presente trabalho apresenta uma análise dos resultados alcançados nas turmas do curso de Formação Executiva em BIM da FGV ocorridas entre outubro/2020 e março/2021. Foram ao todo 85 alunos distribuídos em 3 turmas, sendo uma turma fechada (para colaboradores de uma mesma empresa, do setor de infraestrutura) e duas turmas abertas (com inscrição permitida a profissionais da indústria da construção com formação superior).

O Programa é oferecido pela FGV entre os seus cursos de curta e média duração e procura desenvolver nos executivos competências relacionadas aos eixos organizacional, gerencial e estratégico. As aulas ocorreram de forma remota, síncrona (ao vivo), transmitidas por webconferência (plataforma Zoom). As aulas foram todas gravadas, com os links para acesso às gravações disponibilizados aos alunos no ECLASS - o ambiente de sala de aula virtual da FGV.

O programa do curso é composto por quatro disciplinas de caráter gerencial: (1) Fundamentos BIM; (2) Gestão Organizacional BIM; (3) Estratégias de Implementação BIM; e (4) Plano de Execução BIM. A carga horária total é de 64 horas, sendo 16 horas para cada disciplina, distribuídas em aulas com duração de 4 horas. Nas três turmas analisadas, as aulas ocorreram sempre à noite (das 18h30 às 22h50 - considerando 20 minutos de intervalo), em dias úteis, com no máximo duas aulas por semana.

A abordagem foi teórico-prática, com a parte prática direcionada ao desenvolvimento de trabalhos voltados para estruturas organizacionais, mapas de processos e planos BIM. Os softwares usados durante as aulas se restringiram a ferramentas para apoio às dinâmicas (exemplos: Slido e Jamboard), não sendo necessário qualquer software específico de BIM. Como o objetivo é o desenvolvimento de competências gerenciais, durante as aulas do curso Formação Executiva em BIM não trabalhamos diretamente com softwares BIM. Naturalmente que, por serem parte essencial de toda gestão de projetos no ambiente BIM, as questões relacionadas aos softwares e tecnologias disponíveis no mercado são abordadas ao longo do todo conteúdo programático, porém sem a necessidade do uso de laboratórios, ou mesmo dos alunos terem equipamentos com softwares BIM instalados.

Os alunos que não puderam participar de alguma das aulas ao vivo assistiram posteriormente as gravações, sem perda de continuidade do conteúdo nas aulas seguintes. As gravações ficam disponíveis por 100 dias após a ocorrência da aula para todos os alunos, não apenas para aqueles que não assistiram ao vivo. Alunos relataram esse como sendo um dos pontos fortes do modelo adotado pelo programa, pois puderam rever trechos das aulas para fixar melhor o conteúdo, além de não perderem os momentos que não puderam estar ao vivo com a turma.

Ao final de cada disciplina foi realizada uma avaliação para verificação da assimilação do conteúdo pelos alunos. Na disciplina (1) a avaliação compreendeu uma atividade sobre os conceitos BIM. Na disciplina (2) envolveu um trabalho sobre novos papéis e responsabilidades BIM. Nas disciplinas (3) e (4) os alunos desenvolveram partes dos planos de implementação BIM e do plano de execução BIM, respectivamente.

Além disso, foram identificados pontos positivos e negativos do curso. Os pontos levantados nas avaliações refletem alguns cenários BIM, como na turma fechada que destacou mais exemplos práticos em infraestrutura, tema que até então tem menos ênfase nas práticas BIM. Atualmente a área de infraestrutura está ganhando maior visibilidade, tendo em vista que as licitações têm apresentado exigências de entregáveis em BIM, impulsionadas pela estratégia BIM-BR.

Outra evidência disso é que quando se compara as turmas, uma porcentagem bem menor de alunos da turma fechada descreveram que o curso cumpriu as expectativas enquanto nas turmas abertas, o maior destaque no curso é ele ter cumprido as expectativas. O curso está mais voltado para perfis de alunos de áreas variadas na AECO, isso é demonstrado em outro ponto levantado nas respostas, a carga horária do curso, esse quesito foi abordado de forma expressiva na turma fechada, enquanto nas turmas abertas foi a menor porcentagem entre as respostas.

Com essas experiências evidencia-se que um curso focado em competências gerenciais BIM é um grande desafio, tendo em vista que a maioria dos cursos BIM são da área de habilidades tecnológicas. Assim, a partir das lições obtidas o curso vai sendo moldado e permitindo o planejamento de capacitações em novas áreas BIM para os gestores.

Apresentação no YouTube: https://youtu.be/X-Jtc-GS3h8

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Biografia do Autor

Cristiane Lopes Canuto, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestrado em Arquitetura. Doutoranda em Arquitetura pelo PROARQ/UFRJ e Professora Convidado IDE/FGV.

Pedro Seixas, Fundação Getulio Vargas

Mestre em Sistemas de Gestão. Doutorando em Arquitetura pelo PROARQ/UFRJ e Professor Convidado e Coordenador IDE/FGV.

Eduardo Ribeiro dos Santos , Univerisdade Federal do Rio de Janeiro

Mestre em Arquitetura. Doutorando em Arquitetura pelo PROARQ/UFRJ e Professor Convidado IDE/FGV.

Cristiane Ramos Magalhães, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestre em Engenharia Urbana. Doutoranda em Arquitetura pelo PROARQ/UFRJ e Professora Convidado IDE/FGV.

Técia Maria Pereira Duarte, Funcação Getulio Vargas

Mestrado em Arquitetura. Doutoranda em Arquitetura pelo PROARQ/UFRJ e Professora Convidado IDE/FGV.

Referências

LEAL, B. M. F.; SALGADO, M. S. Propostas de incorporação de BIM no curso de Arquitetura e Urbanismo.PARC Pesquisa em Arquitetura e Construção,Campinas, SP, v. 10,p. e019025,25 jul. 2019. ISSN 1980-6809. DOI:http://dx.doi.org/10.20396/parc.v10i0.8653676

EASTMAN, C. et al. Manual de BIM: um guia de modelagem da informação da construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores. Porto Alegre: Bookman, 2014. 483 p.

KASSEM, M.; AMORIM, S. R. L. BIM Building Information Modeling no Brasil e na União Europeia. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2015.

SUCCAR, B. Building information modelling framework: A research and delivery foundation for industry stakeholders. Automation in Construction, v. 18, n. 3, p. 357-375, 2009. DOI:https://doi.org/10.1016/j.autcon.2008.10.003

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Publicado

2021-05-21

Como Citar

CANUTO, Cristiane Lopes; SEIXAS, Pedro; SANTOS , Eduardo Ribeiro dos; MAGALHÃES, Cristiane Ramos; DUARTE, Técia Maria Pereira. Formação executiva em BIM: experiências didáticas na FGV. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ENSINO DE BIM, 3., 2021. Anais [...]. Porto Alegre: ANTAC, 2021. p. 1. DOI: 10.46421/enebim.v3i00.322. Disponível em: https://eventos.antac.org.br/index.php/enebim/article/view/322. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

Planejamento de inserção de BIM na educação

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