Práticas socioecológicas e resiliência urbana
Uma experiência de pesquisa
Palavras-chave:
Resiliência urbana, Resiliência comunitária, Iniciativas locais, Mapeamento colaborativo, SalvadorResumo
Este artigo discorre sobre uma experiência de pesquisa que envolve o mapeamento de práticas socioecológicas realizadas por iniciativas de base comunitária na cidade de Salvador e entorno, com o objetivo de compreender os processos de autogestão e contribuição para o fortalecimento da resiliência urbana, no contexto das mudanças climáticas. Nesse sentido, também é desenvolvido o conceito de resiliência comunitária, com suas implicações nos grupos organizados da sociedade civil, considerando as questões relativas à articulação e cooperação entre os diferentes atores sociais envolvidos. Intenciona-se reconhecer as iniciativas e suas práticas, bem como, as motivações e formas de atuação, problematizando sobre possíveis contribuições para o fortalecimento da resiliência urbana. Durante a pesquisa, ainda seguindo protocolos relativos à pandemia do coronavírus, optou-se pelo método do mapeamento colaborativo digital, visando promover a interação com e entre os desenvolvedores dessas práticas, a partir da auto-localização em um mapa digital remoto e a resposta à um questionário de opinião pública, distribuído nas redes sociais. Para esta fase da pesquisa, foi levantado um número representativo de práticas que possibilitou uma breve reflexão sobre os desafios e potencialidades da atuação dessas iniciativas na cidade. Nos resultados são apresentados indicativos sobre o perfil, as motivações e a pluralidade de formas de atuação, passíveis de análises mais complexas nos desdobramentos da pesquisa. As iniciativas se apresentaram como coletivos, movimentos e associações, na busca pela transformação de áreas socialmente e/ou ambientalmente abandonadas ou precarizadas, mobilizando a construção de lugares, por meio de ações práticas de interesse social e coletivo, que refletem na qualidade ambiental urbana. Destacam-se a motivação em tomarem a iniciativa, muitas vezes, frente a inação e dificuldades de interlocução com o Estado. Além disso, a pesquisa possibilitou identificar pontos de melhoria na abordagem de iniciativas comunitárias e possíveis novos caminhos para compreender suas características e atuação nos territórios.
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