Ensino de BIM no Curso Técnico de Edificações do IFSUL - Campus Pelotas
DOI:
https://doi.org/10.46421/enebim.v4i00.1923Keywords:
matriz curricular, ensino BIM, ensino técnicoAbstract
Os programas CAD (Computer Aided Design) foram adotados nas práticas de ambientes acadêmicos, escritórios e construtoras na década de 90 no Brasil, isso representou uma substituição do desenho técnico a mão para o digital. A implementação do sistema BIM (Building Information Modeling) representa uma mudança mais significativa, pois altera o modo como o trabalho é executado. Um modelo BIM carrega em si informações precisas não apenas a respeito da forma da edificação, como também da técnica construtiva, de materiais e de quantitativos. Além disso, possibilita a interoperabilidade entre os projetos complementares. Não há necessidade de compatibilização posterior. No entanto, para que isso ocorra as equipes precisam trabalhar em rede e estar atentas ao modo como suas ações causarão interferências em outras disciplinas envolvidas. Assim como numa obra, as disciplinas dos cursos técnicos vêm sendo trabalhadas isoladamente ou com tímidas iniciativas de interdisciplinaridade. Para a implementação do BIM nas rotinas didáticas será necessário que o modo de atuar em sala de aula seja revisto no sentido de buscar a interdisciplinaridade. Ruschel, Andrade e Moraes (2013) destacam o salto na compreensão de todo o processo projetual, de execução, operação e manutenção de obras quando substitui-se a representação gráfica pela representação geométrica e informacional o que fundamenta o ensino de BIM e nos leva a repensar a integração entre as disciplinas. Estes mesmos autores sugerem que a implementação seja feita em etapas em níveis de integração de informações, bem como na abrangência das fases do ciclo de vida da edificação. Esses níveis, segundo os parâmetros de classificação das experiências didáticas de ensino de BIM, são: (a) introdutório, que habilita como modelador, através da modelagem paramétrica e da geração de quantitativos e documentação; (b) intermediário, que habilita como analista com a geração de simulações 4D e 5D, compatibilização e planejamento e; (c) avançado, que habilita como gerente, envolvendo a colaboração entre múltiplos agentes e a criação compartilhada (RUSCHEL, ANDRADE e MORAES, 2013).
Na intenção de implementar o ensino de BIM no Curso Técnico de Edificações, no IFSul - Campus Pelotas, foi promovido um projeto de capacitação dos professores proporcionando um primeiro contato com o software Autodesk Revit que possibilitou a compreensão das necessidades e desafios para a implementação deste no curso. Em um segundo momento, realizou-se um projeto de ensino com o objetivo de estabelecer uma metodologia de trabalho para a implementação do ensino de BIM nas disciplinas com vistas à atualização da matriz curricular, de acordo com as demandas do mundo do trabalho, possibilitando aos estudantes o desenvolvimento de uma visão holística da construção, desde a especificação de materiais e técnicas construtivas até a compatibilização de projetos, o planejamento e a gestão da obra, assim como a gestão e manutenção da edificação, com vistas a produzirmos obras em concordância com os preceitos de sustentabilidade ambiental. Inicialmente realizou-se uma pesquisa para identificação da implementação do sistema BIM em construtoras e nos escritórios de engenharia e arquitetura de Pelotas, e uma revisão de literatura a respeito da implementação do sistema em ambientes acadêmicos como cursos técnicos de nível médio e cursos superiores de Arquitetura e Engenharia Civil. A pesquisa com os escritórios indicou que 64,71% da amostra utilizam a tecnologia BIM, a maioria começou a utilizar no período entre 2 a 5 anos e somente um escritório apontou que não pretende utilizá-la. Foram indicadas as seguintes vantagens: modelagem tridimensional, rapidez na produção de desenhos técnicos, precisão nos detalhamentos, centralização de arquivos, compatibilidade entre projetos e auxílio no planejamento da obra, sendo a modelagem o item citado por quase todos os escritórios. A maior desvantagem apontada pelos escritórios foi a falta de profissionais qualificados para utilizar ferramentas BIM. Na sequência, iniciou-se a oferta de um curso de curta duração ministrado aos estudantes do curso técnico, como experiência para desenvolver a metodologia para a implementação futura no currículo do curso. O curso foi desenvolvido em uma turma de quinze estudantes com um encontro semanal de duas horas-aula ao em doze semanas. Em paralelo a oferta do curso, ocorreram reuniões semanais de capacitação, planejamento, acompanhamento e avaliação pelos professores envolvidos. O curso teve início em março de 2020, e foi interrompido em virtude da pandemia COVID-19. No ano de 2021, o planejamento foi retomado, o projeto de ensino atualizado e ampliado com objetivo de retomarmos as ações para a implementação do ensino de BIM. Nesta segunda etapa foi ofertado um novo curso de curta duração aos estudantes. O curso foi desenvolvido, no ano de 2022, com 12 estudantes de uma turma do quinto semestre, com um encontro semanal presencial ao longo de dez semanas e atividades à distância. Com base nestas experiências os professores estão desenvolvendo estudos para a inserção do ensino de BIM na matriz curricular do curso, com objetivo de integrar os vários componentes curriculares modificando o modo de abordá-los em sala de aula.
Os resultados até o momento são: (a) a geração de um ponto de partida para a implementação da ferramenta BIM nas disciplinas do curso, como suporte para a modelagem da informação aliada ao projeto, através de estudo de adequação da matriz curricular; (b) a geração de uma experiência piloto que culminou na implementação de forma gradual, do ensino da ferramenta BIM nas disciplinas de Informática Aplicada e Projeto Arquitetônico; (c) melhor compreensão dos estudantes em relação a identificação dos elementos, técnicas e processos construtivos na modelagem dos projetos; (d) desenvolvimento da visualização espacial. Espera-se como resultados futuros: (a) a elevação do nível de qualificação profissional dos egressos; (b) a possibilidade de percepção dos estudantes sobre a interoperabilidade entre planejamento, projeto e execução; (c) a ampliação da inserção do ensino de BIM na matriz curricular em outras disciplinas; (d) a inserção e disseminação do conhecimento de BIM na esfera dos cursos técnicos, considerando seu perfil interdisciplinar que faz a ligação entre teoria e prática, escritórios e canteiros de obra. Espera-se com este trabalho contribuir para a inserção do ensino de BIM nos cursos técnicos no país.
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RUSCHEL, Regina C.; ANDRADE, Max L. V. X; MORAIS, Marcelo de. O ensino de BIM no Brasil: onde estamos? Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 151-165, abr./jun. 2013.
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