A orçamentação aliada ao BIM no ensino de arquitetura e urbanismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46421/enebim.v4i00.1918

Palavras-chave:

Orçamentação, BIM, Experimento Didático.

Resumo

A importância da etapa de orçamentação deve ser ressaltada nos escritórios de arquitetura, engenharia e licitações de obras públicas, permitindo a previsão do custo para a execução de determinada obra. Todavia, a utilização de processos manuais na extração de quantitativos pode trazer erros, afetando a tomada de decisão e o desempenho dos negócios   de   empresas (ANDRADE, BIOTTO e SERRA, 2021). Soma-se à problemática, ainda, a ausência de disciplinas nos cursos de Arquitetura e Urbanismo que abordem o tema e que possibilitem a iniciação dos futuros profissionais arquitetos em discussões mais assertivas sobre o custo de suas propostas. No intuito de superar essa problemática, buscou-se aplicar o tema de orçamentação, aliado ao uso do Building Information Modeling (BIM), por meio de uma disciplina optativa no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), denominada “Tópicos Avançados em Tecnologia da Edificação”. Sua ementa possui conteúdo livre, voltado para o aprofundamento de tópicos relacionados à tecnologia, com carga horária de 64 horas. O presente trabalho relata a aplicação desse experimento didático no ano de 2021, contando com turmas de 17 estudantes (2021.1) e 20 estudantes (2021.2). É importante reforçar que em 2020 a disciplina já havia sido proposta, porém a versão de 2021 apresenta aprimoramentos em sua metodologia, a partir do feedback das turmas anteriores. O objetivo da disciplina inclui a identificação e quantificação dos valores dos serviços em uma obra, a fim de se realizar o orçamento de um determinado projeto arquitetônico. As competências a serem desenvolvidas se classificam como operacionais: modelagem, planejamento / projeto, e quantificação, permitindo expansão para planilhas de orçamentação. 

Para tanto, o exercício da disciplina parte da concepção de um projeto residencial unifamiliar de padrão baixo (R1-B), segundo a NBR 12.721:2006, sendo modelado em ambiente BIM, com o uso do software Archicad (GRAPHISOFT). Ressalta-se que a escolha do software se deu em virtude da experiência prévia dos discentes, já sendo utilizado em uma disciplina obrigatória de introdução ao BIM do 3º semestre. A partir da proposta do projeto, o exercício é dividido em 3 etapas, relacionadas ao processo de orçamentação: estimativa de custo, orçamento preliminar e orçamento analítico/detalhado (Mattos, 2006). Além disso, busca-se abordar o conteúdo programático de maneira teórico-prática, abordando os conceitos de orçamentação de maneira paralela à sua aplicação junto ao modelo BIM, por meio do exercício prático das equipes. A primeira etapa consiste na estimativa de custos do projeto, a partir do cálculo do CUB (Custo Unitário Básico), com discussão junto à turma para a determinação de índices (pesos) para cada tipo de cômodo da residência, considerando suas especificidades construtivas. Os dados são aplicados ao modelo BIM a partir de expressões que multiplicam a área construída dos ambientes (ferramenta Zona) pelo valor do CUB e os índices discutidos em aula. A segunda etapa do exercício se aproximou da noção de orçamento preliminar, definido por Mattos (2006) como uma etapa que consiste na pesquisa de preços e no levantamento de quantitativos dos sistemas construtivos de maior expressividade no custo final. Desse modo, para essa etapa do exercício foram considerados os serviços de: 1. fundações, 2. estrutura, 3. vedação, 4. esquadrias, 5. cobertura. Para a pesquisa de referência de preços, utilizou-se do banco de dados do Sistema de Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) e da Secretaria de Infraestrutura do Ceará (SEINFRA/CE). Os critérios que essas referências definem para a extração de quantitativos para cada sistema construtivo foram traduzidas em expressões específicas dentro do ambiente do Archicad, sendo relacionadas às informações dos quantitativos, extraídos dos elementos de modelagem (metragem, área, volume, unidades). Na última etapa, o processo se  assemelha ao anterior, porém no nível de orçamento detalhado, incluindo os serviços correspondentes às etapas de acabamento (impermeabilização e revestimentos), considerando-se parede, piso, teto e esquadrias. Além disso, propõe-se a revisão de todos os custos unitários para o mês vigente do encerramento do exercício, tanto do CUB como dos serviços contemplados no orçamento preliminar, possibilitando um entendimento prático do conceito de temporalidade na orçamentação. Propõe-se, ainda, que os discentes estimem o valor final da obra,  incluindo os serviços que não puderam ser modelados em BIM, como as instalações elétricas e hidrossanitárias. Para tanto, utiliza-se um quadro apresentado por Mascaró (2006) com pesquisas que trazem a influência (%) de cada etapa da obra para seu valor final. Por fim, solicita-se que os estudantes calculem o valor do metro quadrado de seu projeto, a partir da composição de custos finalizada na última etapa do exercício, comparando-o com o valor estabelecido pelo CUB.

A partir do experimento didático, percebeu-se a contribuição de uma disciplina de orçamentação no âmbito acadêmico de um curso de arquitetura, com a aproximação da atividade projetual ao seu caráter prático-construtivo. A experiência da disciplina demonstrou uma revisão dos temas de materiais e sistemas construtivos estudados no decorrer do curso, sendo abordados em maior nível de detalhe e precisão junto ao modelo BIM, além de uma maior aproximação à prática profissional em projeto e construção. Nesse contexto, a utilização do BIM aliado à orçamentação permitiu a parametrização da extração de quantitativos e do cálculo dos custos finais para cada serviço, otimizando e automatizando determinadas funções, facilitando a modificação e atualização dos dados, e contribuindo para o processo com um aumento de precisão e confiabilidade dos resultados, um maior apoio à tomada de decisões e a antecipação das discussões sobre os custos da obra, ainda na etapa de projeto. A experiência da disciplina também apontou as principais dificuldades dos estudantes, destacando-se: 1. como traduzir corretamente as informações relativas à execução de cada serviço em parâmetros adequados ao modelo BIM; 2. a importância da organização e cuidado na gestão das informações do modelo BIM, principalmente em serviços de execução mais complexa. Dessa forma, a integração entre BIM e orçamentação pode resultar em métodos mais complexos, a depender do nível de automatização que se pretende atingir, o que trouxe aos estudantes uma maior compreensão acerca dos potenciais de utilização do BIM para a orçamentação.

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Biografia do Autor

Neliza Maria e Silva Romcy, Universidade Federal do Ceará

Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Adjunta na Universidade Federal do Ceará (Fortaleza - CE, Brasil).

Raquel Fonseca de Albuquerque, Universidade Federal do Ceará

Cursando Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Ceará (Fortaleza - CE, Brasil).

Thamara Arruda Nunes, Universidade Federal do Ceará

Cursando Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Ceará (Fortaleza - CE, Brasil).

Referências

ANDRADE, F. M. R.; BIOTTO, C. N.; SERRA, S. M.B. Modelagem BIM para Orçamentação com Uso do SINAPI. Gestão & Tecnologia de Projetos. São Carlos, v16, n3, 2021. https://doi.org/10.11606/gtp.v16i2.170318

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12.721: Avaliação de custos unitários de construção para incorporação imobiliária e outras disposições para condomínios e edifícios. Rio de Janeiro. 2006.

BIM EXCELLENCE. Competency Table. Disponível em: https://bimexcellence.org/files/201in-Competency-Table.pdf Acesso em: 27 ago. 2022.

MATTOS, Aldo Dórea. Como preparar orçamentos de obras: dicas para orçamentistas, estudos de caso, exemplos. São Paulo: Editora Pini, 2006.

MASCARÓ, Juan Luís. O custo das decisões arquitetônicas. 4° Edição. Editora Masquatro. Porto Alegre. 2006

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Publicado

2022-06-08

Como Citar

ROMCY, Neliza Maria e Silva; ALBUQUERQUE, Raquel Fonseca de; NUNES, Thamara Arruda. A orçamentação aliada ao BIM no ensino de arquitetura e urbanismo. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ENSINO DE BIM, 4., 2022. Anais [...]. Porto Alegre: ANTAC, 2022. p. 1–1. DOI: 10.46421/enebim.v4i00.1918. Disponível em: https://eventos.antac.org.br/index.php/enebim/article/view/1918. Acesso em: 3 nov. 2024.

Edição

Seção

Experiência de ensino-aprendizagem BIM realizadas

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