Educação corporativa na implementação de BIM

empresa de infraestrutura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46421/enebim.v5i00.3367

Palavras-chave:

Educação corporativa, Ensino de BIM, Formação profissional, Competências

Resumo

Há poucos estudos publicados sobre o tema da Educação Corporativa em órgãos públicos e empresas envolvidas em Parcerias Público-Privadas, especialmente no setor de infraestrutura. Contudo, essas instituições são diretamente afetadas pelo Decreto Federal nº 10.306 (BRASIL, 2020), que estabelece o uso do BIM no Brasil. É importante destacar que, em relação à maturidade BIM para infraestrutura, ela é consideravelmente menor em comparação com a maturidade para edificações (CORREA et al., 2019). Portanto, relatos de experiências dentro desse setor podem contribuir para a implementação bem-sucedida do decreto e, consequentemente, para o avanço da adoção do BIM no país. Educação Corporativa tem como propósito incentivar a aprendizagem dos colaboradores, visando o alcance dos objetivos estratégicos das empresas. No contexto da Construção 4.0, ela desempenha um papel essencial no desenvolvimento de habilidades complexas para promover resiliência. Com o crescente uso do BIM devido aos decretos federais, surge a necessidade de uma mudança cultural no modo de desenvolver projetos. O engajamento das empresas com os princípios do Building Information Modeling (BIM) gera processos de conscientização e alinhamento, os quais implicam em investimentos financeiros e modificações na gestão, incluindo treinamentos que impulsionem a transformação da cultura organizacional. No entanto, de acordo com Santos, Souza e Salgado (2021), as ações atualmente em curso são fragmentadas em eventos organizados por entidades representativas e em cursos de pós-graduação, nos quais o foco ainda está inteiramente voltado para a tecnologia, revelando a necessidade de uma maior maturidade em relação às competências exigidas dos profissionais que desejam trabalhar com o processo BIM. Em um estudo conduzido por Delatorre e Santos (2014), constatou-se que existe uma grande ênfase nas habilidades de uso de software e uma capacitação insuficiente quanto aos processos e fluxos de trabalho. Eles concluíram que, em empresas de maior porte, há uma tendência de implementar um departamento ou núcleo específico responsável pela gestão da tecnologia, incluindo a capacitação dos profissionais e o desenvolvimento de processos. Esse trabalho tem como objetivo relatar a experiência de ensino e aprendizagem de educação corporativa em empresa do setor de infraestrutura rodoviária.

O estudo foi realizado em uma empresa brasileira do setor de infraestrutura, denominada CCR Rodovias, que compreende 11 concessionárias, tanto estaduais como federais. Esse conjunto de empresas é responsável pela administração de 3.615 quilômetros de malha rodoviária, contando com um grupo de Engenharia Projetos, Manutenção e Operação que agrega mais de 700 colaboradores. No intuito de nivelar os conhecimentos e estabelecer os processos BIM específicos para a CCR, foi iniciado em 2022 um programa de capacitação em BIM voltado especialmente para o subgrupo de Engenharia Projetos. A capacitação foi estruturada em três etapas: (1) Teórica – BIM Conceitual, (2) Prática – Coordenação de projetos em BIM e (3) Prática – Ferramentas BIM. Esse trabalho se refere exclusivamente à primeira etapa. A capacitação intitulada “BIM Conceitual” consistiu em oito módulos, de três horas semanais cada, em formato presencial, totalizando 24 horas. Foi realizada em duas edições, a primeira para a turma A (38 participantes), entre outubro e novembro de 2022 (KEHL et al., 2023, no prelo). A segunda edição foi realizada para 3 turmas (B, C e D) entre fevereiro e junho de 2023, de forma alternada, cada uma com média de 50 participantes. No total, foram capacitados 186 colaboradores. O público-alvo foi composto de colaboradores entre agentes, analistas, coordenadores, especialistas, estagiários, gerentes e supervisor das áreas funcionais listadas a seguir: Centro de Informação; Especialidades; Faixa de Domínio; Integração; Meio Ambiente, Desapropriação e Interferências; Novos Negócios; Orçamento; Planejamento; Projeto; Projetos Internos e Tráfego. Os conteúdos foram direcionados para as práticas da empresa. O propósito do curso consistiu em fomentar a participação e facilitar o nivelamento dos colaboradores. As sessões de aprendizado foram divididas em aulas expositivas e atividades práticas, aplicando uma metodologia ativa de gamificação, ou seja, uma competição entre grupos. Para promover uma maior integração, as turmas e grupos foram organizados de modo a incluir deliberadamente indivíduos de diferentes áreas e hierarquias. A preparação e condução dos módulos foram realizadas por um grupo composto por quatro profissionais da área de Engenharia Digital, que possuem formação especializada em BIM.

Ao término da capacitação, foi aplicado questionário online para identificar a percepção dos participantes. Do total de 186 participantes, 103 (55%) responderam ao formulário. Foram colhidas informações de caracterização do perfil quanto a cargo e área funcional, porém os resultados discriminados não serão abordados neste trabalho. Na primeira seção do questionário analisado nesse trabalho foi utilizada a escala de Likert de 5 pontos: Muito Satisfatório (MS), Satisfatório (S), Neutro (N), Insatisfatório (I) e Muito Insatisfatório (MI) para medir a opinião sobre os seguintes critérios: Conteúdo teórico, Exercícios práticos, Instrutoras, Duração total (encontros), Duração por encontro (3h30), Frequência, Formato presencial e Satisfação geral. A Satisfação geral medida foi de 87% entre Muito Satisfatório (47%) e Satisfatório (40%). Os critérios de maior índice de satisfação foram medidos quanto às Instrutoras (98%) e ao Formato presencial (88%). Os critérios de maior índice de insatisfação foram medidos quanto à Duração por encontro (21%) e à Duração total (14%). Na segunda seção, foi utilizado o método de questão fechada com alternativas para medir a opinião sobre os seguintes aspectos: (1) nível de conhecimento teórico de BIM antes e depois do treinamento (usando escala de SUCCAR et al., 2013 – Nenhum, Básico, Intermediário e Avançado) e (2) módulos do treinamento considerados mais e menos relevantes para atividade profissional na CCR. O nível de conhecimento predominante passou de Básico (49%) antes do treinamento para Intermediário (53%) depois do treinamento. O nível Nenhum caiu de 40% antes para 3% depois. O módulo considerado mais relevante no geral foi o Módulo 4 – Ambiente comum de dados (CDE), com 23%. O módulo considerado menos relevante no geral foi Nenhum (ou seja, todos são considerados relevantes) com 37%, seguido do Módulo 7 – Normalização, com 15,5%. A partir da experiência, percebe-se que a oferta capacitação sobre BIM na educação corporativa permite a aquisição de conhecimento teórico e potencializa o desenvolvimento de competências BIM individuais atualmente demandadas no setor.

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Biografia do Autor

Caroline Kehl , Universidade Estadual de Campinas & Grupo CCR

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Universidade Estadual de Campinas (Campinas - SP, Brasil) e especialista da Engenharia Digital do Grupo CCR (Jundiaí - SP, Brasil). Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre - RS, Brasil).

Sâmara Machado Cabral Melo, Universidade Estadual de Campinas/Grupo CCR

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Universidade Estadual de Campinas (Campinas - SP, Brasil) e coordenadora da Engenharia Digital no Grupo CCR (Jundiai - SP, Brasil). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo - SP, Brasil).

Regina Coeli Ruschel

Livre docente em Projeto Auxiliado por Computador pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo  da  Universidade Estadual de Campinas. Doutor em Engenharia Elétrica na área de Automação pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas. Professora Colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Universidade Estadual de Campinas (Campinas - SP, Brasil).

Referências

BRASIL. Decreto nº 10.306 de 2 de abril de 2020. Estabelece a utilização do Building Information Modeling na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal, no âmbito da Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modeling – Estratégia BIM BR. Brasília, DF, 2020. url: http://www.in.gov.br/web/dou/‑/decreto‑n‑10.306‑de‑2‑de‑abril‑de‑2020‑251068946.

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SUCCAR, B.; SHER, W.; WILLIAMS, A. An Integrated approach to BIM competency assessment, acquisition, and application. Automation in Construction, [S.I.], v. 35, p.174‐189, 2013. doi: https://doi.org/10.1016/j.autcon.2013.05.016

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Publicado

02/11/2023

Como Citar

KEHL , C. .; MELO, S. M. C.; RUSCHEL, R. C. Educação corporativa na implementação de BIM: empresa de infraestrutura. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE O ENSINO DE BIM, 5., 2023. Anais [...]. Porto Alegre: ANTAC, 2023. p. 1–1. DOI: 10.46421/enebim.v5i00.3367. Disponível em: https://eventos.antac.org.br/index.php/enebim/article/view/3367. Acesso em: 6 maio. 2024.

Edição

Seção

Experiência de ensino-aprendizagem BIM realizadas

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